"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 24 de junho de 2011

A GUERRA DA RAINHA ANA (1702–1713)

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 A Guerra da Rainha Ana foi a segunda de uma série de quatro guerras lutadas entre a França e a Grã-Bretanha na América do Norte pelo controle do continente, e foi a contrapartida à Guerra de Sucessão Espanhola que teve lugar na Europa.

Rainha Ana, da Inglaterra

Embora o palco decisivo da Guerra de Sucessão Espanhola fosse a Europa, houve lutas consideráveis no Novo Mundo, sobretudo no Caribe e na América do Norte. Nessas regiões, o conflito ficou conhecido como Guerra da Rainha Ana, a monarca inglesa da época. A guerra na América do Norte foi travada pelos franceses e espanhóis contra os britânicos. Todos os três possuíam colônias na região e utilizaram seus próprios colonizadores e colonizados (ameríndios) em suas campanhas.

Entre 1702 e 1704 a luta concentrou-se na América do Norte. Os ameríndios e os colonizadores britânicos das Carolinas atacaram a cidade espanhola de Santo Agostinho. A cidade caiu, mas a guarnição espanhola recuou para um forte e conseguiu repelir os atacantes, que debandaram quando navios de guerra espanhóis chegaram para reforçar os sitiados. No período de 1703-04, ambos os lados promoveram assaltos repentinos contra assentamentos e missões isolados. No norte, os franceses pilharam comunidades britânicas desde o Maine até Connecticut e, em duas ocasiões, desencadearam grandes operações contra a Terra Nova.

Soldado britânico do início do século XVIII


Forças coloniais britânicas tentaram por duas vezes (em 1704 e 1707) capturar Port Royal, na área sob controle francês da Nova Escócia, mas falharam. Port Royal acabou tomada por 4 mil soldados britânicos apoiados por navios de guerra em outubro de 1710 e foi nomeada Annapolis Royal, em homenagem à rainha.

Em julho de 1711, colonizadores e tropas britânicas tentaram tomar Montreal e Quebec, mas a campanha foi abandonada quando diversos navios de transporte afundaram no Rio São Lourenço, após se chocarem com rochedos.

Controle territorial na América do Norte após o Tratado de Utrecht


A Guerra da Rainha Ana foi encerrada com o Tratado de Utrecht, em 1713. Os britânicos obtiveram as maiores vantagens com o tratado: a França cedeu à Grã-Bretanha o controle da Nova Escócia e da Terra Nova, e os britânicos conquistaram o direito de fornecer escravos africanos às colônias espanholas na América do Norte.

LIVRO - LIGEIRAMENTE FORA DE FOCO

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Ligeiramente Fora de Foco
Robert Capa, Cosac Naify, 296 páginas.



Fotojornalista conhecido por suas imagens de guerra, Robert Capa queria mesmo é ser escritor, diz o seu biógrafo e editor, Richard Whelan.  Nesse texto de 1947, Capa recupera o desejo antigo ao narrar passagens de sua vida profissional e pessoal, grande parte dela em torno de fatos históricos.

Relatos sinceros e bem-humorados relembram episódios pesados, como o desembarque aliado na Normandia, no Dia D, e a rotina nada romântica de um correspondente de guerra.  Entre as páginas, fotografias flagram famílias ansiosas, ruas destruídas, hospitais improvisados, enterros sofridos - cenas que ilustram boa parte do século XX.


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sexta-feira, 17 de junho de 2011

PENSAMENTO MILITAR


“Não repita um ataque pela mesma frente após um insucesso inicial. O mero reforço de forças não é suficiente para reverter a situação, porque provavelmente o inimigo também terá reforçado suas forças durante este processo. Além do mais, provavelmente o moral do inimigo foi elevado pelo sucesso em repelir seu ataque.”

Basil Liddell Hart, militar e estrategista britânico
 
 
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A URSS VENCE A FINLÂNDIA

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Desde o princípio da invasão da URSS pelos alemães, em 1941, a Finlândia lutara contra os soviéticos, como aliada da Alemanha. O grosso das suas forças - umas 14 divisões - participou das operações desenvolvidas na região dos lagos Onega e Ladoga e no istmo de Carélia, e colaborou no sítio de Leningrado. Por sua vez, os alemães colocaram um exército no norte da Finlândia, comandado pelo General Dietl, que tivera destacada atuação na campanha da Noruega. Essa força recebeu a missão de conquistar o porto russo de Murmansk, através do qual a Rússia recebia importantes envios de material bélico transportado por comboios provenientes da Grã-Bretanha. O ataque contra Leningrado, do território finlandês, fracassou.

Igual sorte teve a operação alemã contra Murmansk. Assim, em princípios de 1944, quando na Rússia a Wehrmacht sofria sucessivas derrotas, na frente finlandesa as ações haviam se estabilizado. Logo, no entanto, os soviéticos passariam ali também à ofensiva com o propósito de forçar definitivamente a Finlândia a abandonar o Eixo.

Soldados de infantaria finlandeses entrincheirados aguardam um ataque soviético


Já imperava nos círculos governamentais finlandeses a convicção de que a guerra estava perdida para a Alemanha. As sucessivas vitórias obtidas pelos russos em 1943 assinalavam claramente que os alemães seriam expulsos a curto prazo, de todos os territórios conquistados no Leste, fato que forçaria a Finlândia a prosseguir sozinha a luta contra a URSS. Ante essa ameaçadora possibilidade, os finlandeses iniciaram, com a mediação dos governos dos EUA e da Suécia, as primeiras gestões para concretizar um armistício. Essa reviravolta na atitude do país fora já exposta pelas declarações que, em setembro de 1943, realizou ante o Parlamento o Primeiro-Ministro finlandês Linkomies, quem declarou que “de acordo com o que sabia, nunca existira nenhum pacto militar ou político entre a Finlândia e a Alemanha”.

Logo em seguida foram entabuladas discussões secretas em Estocolmo entre delegados finlandeses e diplomatas russos. Esses últimos apresentaram as condições do governo da URSS para a assinatura de um armistício; eram as seguintes:

1° - Rompimento de relações com a Alemanha e internamento das tropas e navios alemães que se encontravam em território finlandês;

2° - Restabelecimento do tratado soviético finlandês de 1939-1940, com o consequente reconhecimento das concessões territoriais, e retirada das tropas finlandesas para as fronteiras fixadas naquele ano;

3° - Devolução imediata dos prisioneiros de guerra soviéticos e aliados e internados civis. Posteriormente, em discussões formais que teriam lugar em Moscou, seriam resolvidas outras questões, entre as quais a desmobilização parcial ou total do exército finlandês e reparação dos danos causados à URSS.

Ao tomar conhecimento dessas exigências, o governo colocou o Parlamento e a opinião pública a par delas. A reação foi totalmente adversa. A Finlândia ainda não sofrera uma derrota militar de suficiente envergadura para aceitar sem luta um armistício que equivalia à perda da sua independência. Não obstante, a gravidade da situação levou o governo a prosseguir nas suas negociações com os russos. Depois de um intercâmbio direto de notas com as autoridades soviéticas, foi enviada a Moscou uma delegação incumbida de levar adiante as conversações. Os representantes finlandeses se entrevistaram com Molotov nos dias 26 e 27 de março de 1944, e receberam deste uma exposição concreta das condições russas. Eram similares às anteriores: rompimento com a Alemanha, restabelecimento do Tratado de 1940, repatriação de prisioneiros, desmobilização de 50% do exército finlandês, pagamento de uma reparação de 600 milhões de dólares, entrega da região de Petsamo, etc. A 19 de abril de 1944, o governo finlandês informou ao governo soviético que, embora desejasse a paz, não podia aceitar aquelas condições.

Com os pés descalços, soldado finlandês caminha para a retaguarda após a derrota para os soviéticos


Ante a obstinação dos finlandeses, os soviéticos decidiram buscar a solução do problema através das armas. Uma avassaladora ofensiva convenceria finalmente a Finlândia da impossibilidade de continuar a guerra. A 10 de junho de 1944, os 11° e 23° Exércitos soviéticos da Frente de Leningrado, comandados pelo Marechal Govorov, passaram ao ataque no istmo de Carélia, apoiados pela frota vermelha do Mar Báltico. As forças finlandesas, dizimadas e exauridas, não puderam deter a investida.

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

IMAGEM DO DIA - 15/06/2011

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Em 1812, durante a invasão francesa na Rússia, tropas russas sob o comando do General Rayevski realizam um contra-ataque perto da cidade de Mogilev


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terça-feira, 14 de junho de 2011

NOTÍCIA - B-17 SOBREVIVENTE DA 2ª GUERRA MUNDIAL SOFRE ACIDENTE NOS EUA

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Parecia uma cena de combate da 2ª Guerra Mundial.  Quem assistiu o Jornal Nacional de ontem viu um bombardeiro B-17 ser destruído pelas chamas no estado de Illinois, EUA. As autoridades tentam descobrir o que pode ter provocado o incêndio a bordo.

O Boeing B-17, conhecido como “Fortaleza Voadora”, é o exemplar batizado de Liberty Belle. A aeronave estava operando no Aeroporto Municipal de Aurora, 60 quilômetros a oeste de Chicago. Construído em 1944, o exemplar viu serviço ativo durante a guerra: foi um dos poucos aviões que sobreviveu ao catastrófico ataque a Düsseldorf, Alemanha, em setembro de 1944, e voou 64 missões de combate antes de ser aposentado em fevereiro de 1945.

O B-17 foi então restaurado pela Liberty Foundation de Miami, Florida. Ele deveria prosseguir de Aurora para Indianápolis e, depois, para Ohio. Voava das 10h às 15h durante a semana, e depois ficava em exposição estática.

O Liberty Belle destruído no milharal após o bem sucedido pouso de emergência

Marty Kunkel, chefe dos bombeiros na cidade vizinha de Sugar Grove, explicou que o pilotou reportou fogo a bordo pouco antes da decolagem: “Ele tentou fazer o retorno para o aeroporto, mas não conseguiu, e então fez o pouso forçado num milharal”.  Depois de pousar no milharal, a aeronave foi consumida pelo fogo.

Apesar da perda total, incrivelmente nenhum dos sete tripulantes do Liberty Belle saiu ferido.


Fonte: Huffington Post

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sábado, 11 de junho de 2011

ENCONTRADO TESOURO PERDIDO DA 2ª GUERRA MUNDIAL

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Uma empresa de prospecção submarina encontrou em águas sul-coreanas do Mar Amarelo um navio japonês afundado durante a 2ª Guerra Mundial com 3,3 toneladas de moedas que poderiam ter grande valor, informou o jornal coreano JoongAng Ilbo.

A companhia Sea Love, baseada na cidade sul-coreana de Boryeong, empreendeu as buscas em fevereiro. O navio em questão seria o Nishima Maru 10, um cargueiro de madeira de 253 toneladas, afundado pelas forças americanas em 2 de julho de 1945, durante a 2ª Guerra Mundial.

Segundo o jornal, os técnicos ainda fazem buscas entre os restos do navio, localizado no fundo do mar próximo ao litoral da ilha de Seonyu, com a esperança de encontrar até dez toneladas de valiosos lingotes de ouro. No entanto, só com as moedas encontradas, eles calculam que poderiam obter cerca de 5 bilhões de wons (R$ 7,33 milhões).



As moedas, cunhadas na China entre os anos 1920 e 1930, estavam guardadas em caixas de madeira apodrecidas, explica Pyun Do-young, proprietário da empresa, em entrevista ao jornal. Por lei, a empresa Sea Love deverá entregar 20% do tesouro extraído ao governo sul-coreano caso não o proprietário do navio não apareça. Embora os especialistas ainda não tenham calculado o valor das moedas, o fato de que a maioria delas seja de níquel as torna mais valiosas do que se fossem de prata.

Pyun afirma que, antes do fim da 2ª Guerra Mundial, altos funcionários do governo japonês, prevendo uma derrota no conflito, passaram a roubar ouro, artefatos, joias e minerais da China e do Sudeste Asiático em navios privados, tais como o Nishima Maru.

O Nishima Maru 10 fotografado pouco antes de seu afundamento em julho de 1945

O jornal indica ainda que este cargueiro poderia ter transportado o chamado "Tesouro de Yamashita", um butim de ouro supostamente roubado pelo general japonês Tomoyuki Yamashita no Sudeste Asiático, que poderia chegar a dez toneladas de ouro, estimadas em torno de R$ 733 milhões.

Os pesquisadores da companhia Sea Love estudaram registros públicos sobre os bombardeios americanos durante a guerra, mas ainda terão de analisar o navio encontrado para confirmar se ele realmente é o Nishima Maru.


Fonte: Terra


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UNIFORMES - SOLDADO ESPANHOL, 1815



No começo do século XIX verificou-se uma mudança significativa nas cores utilizadas pelo exército espanhol para fardar seus soldados, com a infantaria passando do fardamento branco para o azul turquesa.  De um modo geral, o faradmento azul permaneceu em uso na Espanha até 1926, quando foi adotado o uniforme cáqui.
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Terminada a Guerra Napoleônica de 1814, Fernando VII reorganizou o exército espanhol.  Ainda durante o conflito, procurou vestir suas tropas com uniformes de procedência inglesa, o que só conseguiu em parte.  Em 1815 foi adotado um novo uniforme que se caracterizava por um novo tipo de cobertura: a barretina.  O novo fardamento era composto por uma túnica curta com  detalhes bordados, gola alta, ombreiras e charlateiras.  As cores predominantes eram o azul turquesa para a túnica e o azul escuro para a calça de inverno.  No verão, era usual utilizar calças brancas.
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Na época, a infantaria espanhola era constituída por fuzileiros, granadeiros e caçadores.  O uniforme era o mesmo para todos, diferindo apenas em alguns detalhes e nas insígnias de cada especialidade.  Os fuzileiros utilizavam, como insígnia, um leão dourado; os granadeiros, uma granada flamejante; e os caçadores uma corneta de caça curva, símbolo de todas as tropas dessa natureza no mundo de então.

O soldado caçador ao lado utiliza o uniforme pdrão de verão, com túnica azul turquesa e calça branca.  Sua condição de caçador pode ser verificada pelos distintivos (corneta de caça curva) bordados nas mangas da túnica com fios dourados.



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sexta-feira, 3 de junho de 2011

IMAGEM DO DIA - 03/06/2011

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Patrulha portuguesa avançando por área rural de Angola a procura de guerrilheiros

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A GUERRA DO PELOPONESO E SEUS PARALELOS COM A GUERRA FRIA

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A disputa entre Atenas e Esparta, no século 5 a.C., foi muito parecida com as décadas de tensão da Guerra Fria. A diferença é que as duas potências gregas não ficaram só nas ameaças




Hesitação prudente passou a ser covardia; moderação tornou-se sinônimo de falta de hombridade. A sociedade ficou cindida em dois campos, nos quais homem nenhum confiava em um amigo.” Essas palavras horrorizadas foram escritas pelo grego Tucídides, que acompanhou a Guerra do Peloponeso, travada entre 431 a.C. e 404 a.C. Um dos fundadores da ciência que hoje chamamos de História, ele previu que aquele duelo, que opôs Atenas e Esparta, mudaria para sempre o mundo grego.

Ali não estavam em jogo apenas território e riqueza, mas dois estilos opostos de vida. De um lado, a democracia de Atenas. De outro, a conservadora Esparta, comandada por uma pequena elite militarizada. E as duas não lutaram sozinhas. Atenas liderava as cidades-estado filiadas à Liga de Delos, promovendo seu modelo democrático em todas elas. Já Esparta era a líder de outro grupo de comunidades, a Liga do Peloponeso, em que a regra era o governo oligárquico.

Generais, diplomatas, políticos e estudiosos comparam as condições que levaram à guerra na Grécia com o que poderia ter ocorrido na época da Guerra Fria”, diz o historiador americano Donald Kagan em A Guerra do Peloponeso. Lançado no Brasil no fim de 2006, o livro une os textos clássicos de Tucídides a descobertas recentes para compor um retrato detalhado do conflito. E, conhecendo de perto essa trágica história, não é difícil encontrar semelhanças entre a situação bipolar vivida pelos gregos e a rivalidade que assombrou o mundo na segunda metade do século XX. A tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética surgiu depois do fim da Segunda Guerra, em 1945. Após se unirem para derrotar a Alemanha de Hitler, os dois países emergiram como superpotências rivais. Os americanos pretendiam espalhar pelo mundo o capitalismo e a democracia, enquanto os soviéticos buscavam disseminar o socialismo.


A rixa entre Atenas e Esparta também começou após uma estrondosa vitória conjunta. Em 479 a.C., na batalha de Platéia, as duas cidades-estado tinham liderado os gregos na expulsão dos invasores persas. Pouco depois, entretanto, a desconfiança mútua tomou conta de ambas as aliadas. Esparta temia a supremacia naval de Atenas, que continuou à frente dos gregos na luta para libertar as cidades-estado da Ásia ainda sob domínio persa. Nos anos seguintes, Atenas encheu o cofre com pilhagens das batalhas e estendeu sua esfera de influência por todo o mar Egeu, consolidando a Liga de Delos.

Mas os atenienses também se sentiam inseguros diante dos espartanos. Enquanto Atenas tinha expandido sua influência pelo mar, Esparta havia utilizado seu disciplinado exército para ganhar a supremacia no interior da península do Peloponeso, ao sul da Grécia. Com o “quintal” em ordem, o que impediria os espartanos de clamar por mais poder?

A paranóia de Atenas acabou se concretizando num tipo de construção que, nos anos 1960, viraria o grande símbolo da Guerra Fria em Berlim, na Alemanha. Temendo um ataque repentino de Esparta, os atenienses decidiram erguer um muro em volta de si. Os espartanos nada disseram (segundo Tucídides, ficaram “secretamente amargurados”). Mas, depois que a muralha foi construída, os radicais de Esparta propuseram um ataque imediato. Foram contidos após um intenso debate.

A situação, porém, se complicaria ainda mais. Em 465 a.C., Esparta enfrentou uma revolta de escravos. Como oficialmente todas as cidades-estado que haviam lutado contra os persas ainda eram aliadas, várias partes da Grécia saíram em seu socorro. Atenas não foi exceção: mandou um grupo de hoplitas (soldados que usavam armaduras). Os espartanos, porém, pediram que eles se retirassem dali, levando junto suas “idéias perigosas”. O medo, claro, era de que o povo de Esparta se sentisse atraído pela democracia. Os atenienses se retiraram, mas ficaram ofendidos. Desmancharam a aliança com Esparta e firmaram um pacto com a cidade-estado de Argos, o pior inimigo dos espartanos. E mais: acolheu de braços abertos os escravos sobreviventes do levante, expulsos de Esparta.

Em 459 a.C, 20 anos após a vitória sobre os persas, a relação entre as duas superpotências gregas já estava deteriorada. Cidades-estado menores começaram, então, a tirar proveito da instabilidade para lutar entre si. Foi o caso de Corinto e Megara, que entraram numa disputa por fronteiras. Ambas estavam na esfera de influência de Esparta, que optou por não intervir no conflito. Megara, sentindo-se prejudicada, foi buscar a ajuda de Atenas, que topou entrar na guerra a seu favor. O problema é que Corinto fazia parte da Liga do Peloponeso, encabeçada pelos espartanos.

O conflito localizado deu origem a quase 15 anos de batalhas entre os aliados de Atenas e os de Esparta. As duas apoiaram seus protegidos, mas não chegaram a se enfrentar diretamente em conflitos de larga escala. Quando Esparta por fim se preparou para invadir Atenas, os pacifistas dos dois lados conseguiram, na última hora, forjar um acordo chamado de “Paz dos Trinta Anos”, encerrando as hostilidades em 446 a.C. O tratado estabelecia que nenhuma das superpotências podia interferir nas áreas de influência da rival e que os membros das alianças não podiam mudar de lado. O mundo grego foi formalmente dividido em dois. Como ocorreu com americanos e soviéticos, mais de 2 mil anos depois, o medo de atenienses e espartanos parecia maior que a vontade de brigar. Parecia.


Vias de fato

A paz foi posta em xeque pela primeira vez em 440 a.C., quando Samos, poderoso membro da Liga de Delos, revoltou-se contra Atenas. O que era uma fogueira virou um incêndio, pois os insurgentes logo conseguiram apoio da Pérsia. Sabendo disso, os radicais espartanos convocaram uma assembléia, reunindo toda a Liga do Peloponeso. Segundo eles, era a hora ideal de atacar Atenas. Manobrando nos bastidores, os pacifistas prevaleceram de novo (e Atenas esmagou a revolta).

A situação se inverteu tempos depois, quando a Córcira, uma cidade neutra, entrou em guerra contra Corinto. Vendo que iam levar a pior, os córciros apelaram para Atenas. Relutando em entrar no jogo contra um membro da Liga do Peloponeso, os atenienses concordaram apenas em enviar uma pequena força de dez navios para atuar de modo defensivo, caso Corinto tentasse atacar a frota da Córcira. Foi o que ocorreu. Graças aos atenienses, os coríntios acabaram levando uma surra. Corinto reclamou a Esparta, acusando Atenas de interferência indevida no conflito. Os espartanos, entret
anto, resistiram a ir à guerra.

Soldado espartano

Testada pela terceira vez, a paz não resistiu. Megara, que havia se aliado a Esparta, foi punida por Atenas com um bloqueio comercial. Em 432 a.C., diante das reclamações contra o “imperialismo” de Atenas, os espartanos convocaram seus aliados para uma assembléia. Os atenienses também foram chamados a se explicar. Seus diplomatas não queriam entrar em guerra contra Esparta. Mas escolheram o jeito errado de evitar o conflito. Diante da assembléia, em tom ameaçador, disseram que enfrentar os atenienses seria uma insensatez. Arquidamo, o rei espartano, era amigo do líder ateniense Péricles e entendeu o jogo de cena: apesar da fanfarronice, os atenienses queriam paz. A interpretação dos aliados de Esparta, entretanto, não foi a mesma. Tomados por décadas de ressentimento, exigiram guerra contra os arrogantes atenienses. Obrigada a aceitar a decisão, Esparta partiu para o confronto. Atenas não teve como recuar. E, a partir de 431 a.C., o conflito tragou toda a Grécia.

Os gregos lutavam seguindo um rígido código de batalha, que não permitia abusos de violência. Mas, dessa vez, as partes deixaram a ética de lado. “Ódio, frustração e desejo de vingança resultaram em uma progressão de atrocidades, que incluíam mutilação e assassinato dos inimigos capturados. Cidades inteiras foram destruídas, seus homens mortos, suas mulheres e crianças vendidas como escravos”, escreveu Kagan. A guerra terminou com a vitória de Esparta e seus aliados, mas não houve muito o que comemorar. O resultado dos combates arrasou a Grécia e jogou seus habitantes num período de barbárie. Fragilizadas, Atenas e Esparta foram submetidas ao domínio de uma nova potência, a Macedônia.

No século passado, por sorte, Estados Unidos e União Soviética não imitaram atenienses e espartanos. Se a diplomacia grega se parece muito com a nossa, as armas contemporâneas ficaram muito mais letais. O livro de Kagan permite imaginar o que teria ocorrido se a tensão da Guerra Fria tivesse irrompido numa guerra direta. Com mísseis nucleares no lugar de barcos e hoplitas, tudo teria sido ainda mais triste que a legítima tragédia grega do Peloponeso.


Cidadãos, às armas!

Quando Atenas perdeu seus marinheiros, o povo assumiu os remos

Trirremes ateniense e espartana se enfrentando no mar Egeu


Durante a Guerra do Peloponeso, Atenas nunca perdeu a supremacia marítima. O segredo estava na habilidade de seus remadores, capazes de realizar manobras complexas sem desorganizar as três fileiras de remos dos trirremes (os barcos de combate gregos). Mas havia um ponto fraco: os marinheiros eram mercenários. Sabendo disso, em 406 a.C. Esparta se envolveu em negociatas com os persas e conseguiu dinheiro para comprar os serviços dos remadores de Atenas. Em pouco tempo, a maré pareceu estar mudando: depois de alguns combates, a combalida frota ateniense foi encurralada na ilha de Lesbos, no mar Egeu. Atenas fez, então, um último esforço de guerra. A primeira vítima, ironicamente, foi a estátua da deusa da vitória, Nike, que enfeitava a cidade. Ela foi derretida e seu ouro foi usado para montar uma nova frota. Mas quem iria remar? Só os escravos não bastariam. A solução foi convocar os cidadãos. Em vez de usar o voto para decidir os destinos da cidade, eles agora teriam que fazer isso no braço. Com muito improviso, Atenas e seus aliados reuniram 155 barcos.

O combate teve lugar nas ilhas Arginusas, perto da costa da atual Turquia, onde Esparta tinha 120 trirremes. Apesar da inexperiência, os atenienses souberam usar sua superioridade numérica: em vez de dispor seus barcos numa fileira única, como era o costume, eles montaram linhas duplas, em que os de trás davam cobertura aos da frente. Surpresos, os espartanos não conseguiram evitar a mais humilhante das derrotas, que incluiu a morte de seu comandante, Calicrátidas. Acostumada a perder um quarto da frota toda vez que enfrentava Atenas, Esparta viu a proporção se inverter. Só um quarto de seus barcos voltou para casa.



Fonte:  Aventuras na História
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