"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 27 de novembro de 2009

IMAGEM DO DIA - 27/11/2009

Artilharia pesada britânica disparando no Somme, durante a 1a Guerra Mundial

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O EXPANSIONISMO ANTERIOR À 2ª GUERRA MUNDIAL





O Expansionismo Italiano

Após dez anos do golpe que implantou o fascismo na Itália, Mussolini iniciou uma política externa agressiva, com o objetivo de ampliar seus territórios coloniais, resolver seus problemas econômicos e reafirmar a posição do país na Europa. O Duce era não apenas o chefe de Estado, mas o comandante supremo das Forças Armadas, controlando diretamente os Ministérios da Guerra, Marinha e Aeronáutica.

A política expansionista iniciou-se em outubro de 1935 com a invasão da Etiópia, na África, que caiu sob domínio italiano em maio do ano seguinte. Ainda em 1936, a Itália enviou tropas para combater na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos falangistas comandados pelo general Francisco Franco, aproximando ao mesmo tempo da política de Hitler. Assim, a 24 de outubro de 1936, foi formalizado o eixo Roma-Berlim, que definiu a linha do expansionismo dos dois países.

Em abril de 1939, Mussolini promoveu a invasão e anexação da Albânia.
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O Expansionismo japonês
O Japão também sofreu os efeitos da crise de 1929. Na década de 30 as diferenças socioeconômicas acentuaram-se, destacando o nítido empobrecimento da classe operária. A alternativa para essa situação, foi a continuidade da sua política imperialista, iniciada em fins do século XIX com as invasões da China e da Coreia, fato que manteve a exigência de altos investimentos na estrutura militar.

Se até a década de 30 o Japão foi mais um dos países imperialistas, na década de 30 passou a uma política mais agressiva, chocando-se com os interesses das grandes potências no oriente. Em 1931 invadiu a Manchúria, em 1933 retirou-se da Liga das Nações e fez da Mandchúria a base para o novo império asiático que pretendia instaurar. Em setembro de 1940 firmou um pacto com a Alemanha e Itália. Assim, em 1940, invadiu a Indochina, colônia francesa, de onde pretendiam retirar borracha, estanho, petróleo e quinino e ao mesmo tempo abrir caminho para uma ocupação mais efetiva no sudeste asiático.



O Expansionismo Alemão
As ações políticas de Hitler combinavam suas necessidades internas e externas. Um dos mais graves problemas da Alemanha era o desemprego. Para atacar este problema, o Führer abriu frentes de trabalho, empregando cerca de 1 milhão de pessoas, em obras de emergência e atividades paramilitares. Em 1935 foi reaberto o alistamento militar, com o intuito de elevar o efetivo militar a 500 mil homens, apesar da proibição do Tratado de Versalhes. Em 1936 iniciou-se a remilitarização da Renânia, na fronteira com a França. Desta maneira saneava-se a situação social interna e ao mesmo tempo desenvolvia-se a política externa, ainda no sentido da preparação do expansionismo.
A geração de empregos esteve diretamente associada a militarização e a industrialização do país, destacando-se a indústria bélica. Preparava o avanço da Alemanha sobre os territórios considerados usurpados do país ao final da Primeira Guerra.


Em março de 1938 efetivou-se o Anchluss - anexação da Áustria pela Alemanha -, utilizando-se o argumento racial, a unidade dos povos germânicos; aproveitando-se ainda da fraqueza do governo austríaco e de sua instabilidade econômica, constantemente agravada desde o final da 1ª Guerra Mundial.
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O mesmo argumento racial foi utilizado por Hitler para avançar em direção a Tchecoslováquia, país formado após a 1ª Guerra, com o fim do Império Áustro-Húngaro. Nesse novo país, a região dos Sudetos era formada em sua maioria por alemães, que, insuflados por Hitler, passaram a exigir autonomia. A mobilização de tropas tchecas e francesas fez com que se buscasse um acordo diplomático. Realizou-se então a Conferência de Munique (setembro de 1938), que acabou por determinar que os Sudetos deveriam ser entregues a Alemanha. A Tchecoslováquia, isolada, foi obrigada a entregar 20% de seu território.

As potências ocidentais colocavam em prática a "política de apaziguamento" acreditando que dessa maneira conseguiriam frear a expansão do nazismo, através da definição de fronteiras européias e da declaração anglo-alemã e franco-alemã de não agressão.
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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ARMAS – CARABINA



 Carabina francesa Lebel Modelo 1886


A Carabina é uma arma de fogo mais curta que o fuzil, tendo entre 1,0 e 1,2 m de comprimento, muito usada em caça e tiro desportivo podendo ser de diversos calibres. Antigamente, designava uma versão mais curta do fuzil de infantaria a ser empregada por tropas de cavalaria. Hoje, designa armas longas de cano raiado mais compactas do que os fuzis ou que disparam munição de menor potência do que estes.

No século XIX e início do século XX, as carabinas eram as armas utilizadas pelas tropas de cavalaria e de caçadores a pé. Os soldados de infantaria de linha precisavam de uma arma de fogo de maior potência, enquanto que aquelas tropas precisavam de uma arma mais compacta e leve. As dimensões e peso relativamente baixos das carabinas permitem a sua mais fácil utilização em situações de combate a curtas distâncias, como áreas urbanas e florestas. A desvantagem, em relação aos fuzis, é a redução do alcance e da precisão a longas distâncias.


Primórdios

A Carabina era, originalmente, uma arma mais curta e leve desenvolvida para os soldados de cavalaria, que não podiam disparar um fuzil ou mosquete montados a cavalo, devido ao peso e tamanho daquelas armas. As carabinas tendiam a ser menos precisas e com menor potência de fogo que as armas de infantaria, em virtude da distância mais curta entre a alça e o ponto de mira e à baixa velocidade de saída dos seus projéteis em razão do cano de menor comprimento.

Com o desenvolvimento da pólvora sem fumaça, as desvantagens das Carabinas devido aos seus canos curtos diminuiram. Para além da cavalaria, as Carabinas começaram a ser utilizadas por aqueles preferiam uma arma mais compacta e ligeira em detrimento da precisão e do alcance. Este era o caso das tropas de caçadores a pé, de artilharia, de logística, de polícia, etc.. O uso deste tipo de arma levou a que alguns corpos de tropas passassem a ser denominados Carabineiros.

Durante o século XIX as Carabinas eram normalmente desenvolvidas separadamente dos fuzis de infantaria, na maioria dos casos utilizando munições diferentes, o que causava diversos problemas logísticos e operacionais.

Durante a Guerra Civil nos Estados Unidos foi desenvolvida uma das Carabinas mais notáveis da época, a Spencer, que utilizava um sistema de carregamento tubular com capacidade para sete munições. Posteriormente a carabina de repetição Winchester converteu-se num dos modelos mais populares e reconhecíveis, sendo criadas várias versões que utilizavam munições de revólver.

1ª Guerra Mundial
,Nas décadas que precederam a 1ª Guerra Mundial os fuzis em serviço nos diversos exércitos começaram a ser de menor tamanho, ou através de projetos completamente novos ou da utilização de “versões carabina” dos fuzis. O fuzil Mosin-Nagant russo, viu o comprimento do seu cano ser reduzido de 800 mm no Modelo 1891, para 730 mm em 1930 e para 510 mm em 1938. O cano da Mauser 98 passou de 740 mm na versão Gewehr 98 para 600 mm na versão Karabiner 98k, adotado como arma longa padrão do Exército Alemão em 1935.

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Pistola-carabina Luger de Artilharia alemã .


Durante a 1ª Guerra Mundial, os combates a curta distância nas trincheiras, levaram à necessidade de armas facilmente manejáveis em espaçõs restritos. Para essa função os alemães utilizaram as versões Carabinas das suas pistolas Mauser C96 e Parabellum, que consistiam essencialmente no acréscimo de uma coronha às armas, permitindo-lhes um tiro mais preciso.

2ª Guerra Mundial


A experiência dos combates da 2ª Guerra Mundial levou à mudança dos critérios para a seleção das armas de infantaria. Ao contrário da 1ª Guerra Mundial, que foi um conflito estático com linhas fixas, a 2ª Guerra foi uma guerra de movimento, com combates frequentes em cidades, florestas e outras áreas de mobilidade e visibilidade reduzidas. A maioria dos confrontos dava-se a distâncias inferiores a 300 metros e o inimigo apenas se expunha ao fogo durante breves instantes, quando se movia de uma abrigo para outro.
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Era realizado fogo de supressão, ou seja, fogo que não era apontado diretamente a um combatente inimigo, mas na direção das tropas adversárias com a intenção de lhes impedir os movimentos e os seus ataques. Estas situações requeriam não um fuzil pesado e de longo alcance, mas sim uma arma leve, de menor potência de fogo, mas com maior cadência de tiro com maiores hipóteses de atingir o inimigo durante os breves instantes em que se expunha. Além das munições mais leves e da capacidade de fogo automático ou semi-automático, as novas armas tinham um cano mais curto, tornando a arma mais compacta e fácil de usar em espaços apertados.

Nos primeiros anos da 2ª Guerra Mundial, os alemães experimentaram carabinas de fogo seletivo. Devido à potência da munição usada, a arma tinha um grande recuo que a impedia de funcionar correctamente em tiro automático. Foi então desnvolvida uma munição intermédia, a 7,92 x 33 mm (Kurz) que foi usada no fuzil de assalto Sturmgewehr 44 (StG44).


Guerra Fria

Durante o período da Guerra Fria, a União Soviética adotou uma arma semelhante ao StG44, o AK-47, que se tornou a arma padrão da sua infantaria. Os Estados Unidos criaram a Carabina M2, uma versão de fogo selectivo da Carabina M1 usada na 2ª Guerra Mundial.

Ainda que os países da OTAN não tenham adotado uma munição intermédia, continuaram a tendência de criar fuzis de assalto menores e mais leves. A OTAN adotou a munição de 7,62 x 51 mm, com uma potência entre a .30-06 Springfield e a .303, que foi utilizada em armas tais como o M14, o FN FAL e o HK G3.


Soldado americano com uma Colt M4 no Iraque

Na década de 1960 os Estados Unidos adotaram a munição de 5,56 x 45 mm. Esta munição era mais pequena e leve que a da AK-47, mas possuía maior velocidade e aproximadamente a mesma energia. Vários países da NATO seguiram os EUA nessa tendência, mantendo a munição de 7,62 mm apenas para armas de precisão de longo alcance. A munição de 5,56 mm levou à adoção de armas de assalto compactas, denominadas Carabinas, como a Colt M4A1.






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terça-feira, 24 de novembro de 2009

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - JOANA D'ARC


Atendento à curiosidade histórica da Aninha, parceira preferencial do Blog História Militar, publico hoje um breve resumo sobre esta importante personagem da História Militar.

* 06/01/1412 - Domrémy-la-Pucelle, França
+ 30/05/1431 – Ruão, França


Joana d'Arc, por vezes chamada de donzela de Orléans, era filha de Jacques d'Arc e Isabelle Romée e foi uma heroína da Guerra dos Cem Anos, durante a qual tomou partido pelos Armagnacs, na longa luta contra os borguinhões e seus aliados ingleses.

Descendente de camponeses, gente modesta e analfabeta, foi uma mártir francesa canonizada em 1920, quase cinco séculos depois de ter sido queimada viva.

Segundo a escritora Irène Kuhn, Joana d'Arc foi esquecida pela história até o século XIX, conhecido como o século do nacionalismo, o que pode confirmar as teorias de Ernest Gellner. Irène Kuhn escreveu: Foi apenas no século XIX que a França redescobriu esta personagem trágica.

François Villon, nascido em 1431, no ano de sua morte, evoca sua lembrança na bela «Ballade des Dames du temps jadis» ou seja, «Balada das damas do tempo passado»

Et Jeanne, la bonne Lorraine
Qu'Anglais brûlèrent à Rouen;
Où sont-ils, où, Vierge souvraine?
Mais où sont les neiges d'antan?

Antes aos fatos relacionados, Shakespeare tratou-a como uma bruxa; Voltaire escreveu um poema satírico, ou pseudo-ensaio histórico, que a ridicularizava, intitulado «La Pucelle d´Orléans» ou «A Donzela de Orléans».

Primeiros Anos


Joana nasceu em Domrémy, na região de Lorena (ou Lorraine) na França. Posteriormente a cidade foi renomeada como Domrémy-la-Pucelle em sua homenagem (pucelle; donzela em português). A data de seu nascimento é imprecisa, de acordo com seu interrogatório em 24 de fevereiro de 1431, Joana teria dito que na época tinha 19 anos portanto teria provavelmente nascido em 1412.

Filha de Jacques d'Arc e Isabelle Romée, tinha mais quatro irmãos: Jacques, Catherine, Jean e Pierre, sendo ela a mais nova dos irmãos. Seu pai era agricultor e sua mãe lhe ensinou todos os afazeres de uma menina da época.

Em seu julgamento Joana d'Arc afirmou que desde os treze anos ouvia vozes divinas. Segundo ela, em seu julgamento, a primeira vez que escutou a voz, ela vinha da direção da igreja e acompanhada de claridade e uma sensação de medo. Dizia que as vezes não a entendia muito bem e que as ouvia duas ou três vezes por semana. Entre as mensagens que ela entendeu estavam conselhos para frequentar a igreja, que deveria ir a Paris e que deveria levantar o domínio que havia na cidade de Orléans. Posteriormente ela identificaria as vozes como sendo do arcanjo Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida.

O arcanjo Miguel é o líder dos exércitos celestiais. Santa Catarina é definida as vezes como uma figura apócrifa a cavalo dos séculos III e IV que morreu com uma idade similar à de Joana; também erudita, persuadiu o imperador Maximiliano II que deixasse de perseguir os cristãos. Foi condenada a morrer na roda (um sistema de tortura que fraturava os ossos). A lenda de Margaret diz que ela foi uma mulher depreciada pela sua fé católica ao que lhe ofereceram matrimônio em troca da renúncia a esta fé. Ante sua negação, foi torturada escapando milagrosamente diversas vezes, até sua morte definitiva. Assim morreu virgem e mártir

A Guerra dos Cem Anos

Desde quando o Duque da Normandia, Guilherme o Conquistador, se apoderou da Inglaterra em 1066, os monarcas ingleses passaram a controlar extensas terras no território francês. Com o tempo, passaram a ter vários ducados franceses: Aquitânia, Gasconha, Poitou, Normandia, entre outros. Os duques, apesar de vassalos do rei francês, acabaram tornando-se seus rivais.

Quando a França tentou recuperar os territórios perdidos para Inglaterra, originou-se um dos mais longos e sangrentos conflitos da história da humanidade: a Guerra dos Cem Anos que durou, na realidade, 116 anos, produzindo milhões de mortos e a destruição de quase toda a França setentrional.

O início da guerra aconteceu em 1337. Os interesses mais que evidentes de unificar as coroas concretizaram-se na morte do rei francês Carlos IV em 1328. Filipe VI, sucessor graças à lei sálica (Carlos IV não tinha descendentes masculinos), proclamou-se rei da França em 27 de maio de 1328.

Felipe VI reclamou em 1337 o feudo da Gasconha ao rei inglês Eduardo III, e no dia 1 de novembro este responde plantando-se às portas de Paris mediante ao bispo de Lincoln, declarando que ele era o candidato adequado para ocupar o trono francês.

A Inglaterra ganharia batalhas como Crécy (1346) e Poitiers (1356). Uma grave enfermidade do rei francês originou uma luta pelo poder entre seu primo João I de Borgonha ou João sem Medo, e o irmão de Carlos VI, Luís de Orléans.

No dia 23 de novembro de 1407, nas ruas de Paris e por ordem do borguinhão, se comete o assassinato do armagnac Luís de Orléans. A família real francesa estava dividida entre os que davam suporte ao duque de Borgonha (borguinhões) e os que o davam ao de Orléans e depois a Carlos VII, Delfim de França (armagnacs ligados à causa de Orléans e à morte de Luís). Com o assassinato do armagnac, ambos os bandos se enfrentaram numa guerra civil, onde buscaram o apoio dos ingleses. Os partidários do Duque de Orléans, en 1414, viram recusada uma proposta pelos ingleses, que finalmente pactuaram com os borguinhões.

Com a morte de Carlos VI, em 1422, Henrique VI da Inglaterra foi coroado rei francês, mas os armagnacs não desistiram e mantiveram-se fiéis ao filho do rei, Carlos VII, coroando-o também em 1422.


Encontro com Carlos
Aos dezesseis anos, Joana foi a Vaucouleurs, cidade vizinha a Domrèmy. Recorreu a Robert de Baudricourt, capitão da guarnição armagnac estabelecida em Vaucouleurs para lhe ceder uma escolta até Chinon, onde estava o delfim, já que teria que atravessar todo o território hostil defendido pelos aliados ingleses e borguinhões. Quase um ano depois, Baudricourt aceitou enviá-la escoltada até o delfim. A escolta iniciou-se aproximadamente em 13 de fevereiro de 1429. Entre os seis homens que a acompanharam estavam Poulengy e Jean Nouillompont (conhecido como Jean de Metz). Jean esteve presente em todas as batalhas posteriores ao lado de Joana d'Arc.

Portando roupas masculinas até sua morte, Joana atravessou as terras dominadas por Borguinhões, chegando a Chinon, onde finalmente iria se encontrar com Carlos, após uma apresentação de uma carta enviada por Baudricourt. Chegando a Chinon, Joana já dispunha de uma grande popularidade, porém o delfim tinha ainda desconfianças sobre a moça. Decidiram passá-la por algumas provas. Segundo a lenda, com medo de apresentar o delfim diante de uma desconhecida que talvez pudesse matá-lo, eles decidiram ocultar Carlos em uma sala cheia de nobres ao recebê-la. Joana então teria reconhecido o rei disfarçado entre os nobres sem que jamais o tivesse visto antes. Joana teria ido até ao verdadeiro rei, curvado e dito: "Senhor, vim conduzir seus exércitos à vitória".

Sozinha na presença do rei, ela o convenceu a lhe entregar um exército com o intuito de libertar Orléans. Porém, o rei ainda a fez passar por provas diante dos teólogos reais. As autoridades eclesiásticas em Poitiers submeteram-na a um interrogatório, averiguaram sua virgindade e suas intenções.

Convencido do discurso de Joana, o rei entrega-lhe às mãos uma espada, um estandarte e o comando das tropas francesas, para seguir rumo à libertação da cidade de Orléans, que havia sido invadida e tomada pelos ingleses havia oito meses.

Joana d'Arc: a guerreira

Munida de uma bandeira branca, Joana chega a Orléans em 29 de abril de 1429. Comandando um exército de 4.000 homens ela consegue a vitória sobre os invasores no dia 9 de maio de 1429. O episódio é conhecido como a Libertação de Orléans (e na França como a Siège d'Orléans). Os franceses já haviam tentado defender Orléans mas não obtiveram sucesso.

Existem histórias paralelas a esta que informam que a figura de Joana era diferente. Ela teria chegado para a batalha em um cavalo branco, armadura de aço, e segurando um estandarte com a cruz de Cristo, circunscrita com o nome de Jesus. Segundo esta outra versão, Joana apenas arrastada pelo fascínio sobrenatural de seus sonhos e proposta de missão a cumprir segundo a vontade divina e sem saber nada sobre arte de guerra comandou os soldados rudes, com ar angelical, na qual em sua presença ninguém se atrevia a dizer ou praticar inconveniências. Ela apresentava-se extremamente disciplinada.

Após a libertação de Orléans, os ingleses pensaram que os franceses iriam tentar reconquistar Paris ou a Normandia, e ao invés disto, Joana convenceu o delfim a iniciar uma campanha sobre o rio Loire. Isso já era uma estratégia de Joana para conduzir o delfim a Ruão.

Joana dirigiu-se a vários pontos fortificados sobre pontes do rio Loire. Em 11 e 12 de junho de 1429 venceu a batalha de Jargeau. No dia 15 de junho foi a vez da batalha de Meung-sur-Loire. A terceira vitória foi na batalha de Beaugency, nos dias 16 e 17 de junho do mesmo ano. Um dia após sua última vitória se dirigiu a Patay, onde sua participação foi pequena. A batalha de Patay, única batalha em campo aberto, já se desenrolava sem a presença de Joana.

Coroação de Carlos VII

Cerca de um mês após sua vitória sobre os ingleses em Orléans, ela conduziu o rei Carlos VII à cidade de Reims, onde Carlos VII foi coroado em 17 de julho. A vitória de Joana d'Arc e a coroação do rei acabaram por reacender as esperanças dos franceses de se libertarem do domínio inglês e representaram a virada da guerra.

O caminho até Reims era considerado difícil já que várias cidades estavam sob o domínio dos borguinhões. Porém, a fama de Joana tinha se estendido por boa parte do território e fez com que o exército armagnac do delfim fosse temido. Assim, Joana passou sem problemas por sucessivas cidades como Gien, Saint Fargeau, Mézilles, Auxerre, Saint Florentin e Saint Paul.

Desde Gien, foram enviados convites a diversas autoridades para assistir à consagração do delfim. Em Auxerre chegou-se a pensar em resistência por parte de uma pequena tropa inimiga que se encontrava na cidade. Após três dias de negociação foi possível por lá passar sem qualquer problema. O mesmo aconteceu em Troyes, cujas negociações duraram cinco dias. A chegada a Ruão foi em 16 de julho.
Sabe-se que o dia da consagração definitiva do rei francês em Ruão foi em 17 de julho e não foi a cerimônia mais esplêndida do momento, já que as circunstâncias da guerra impediam o contrário. Joana assistiu à consagração de uma posição privilegiada, acompanhada de seu estandarte.

Paris

Teoricamente Joana já não tinha nada mais que fazer no exército já que havia cumprido sua promessa perfeitamente, havia cumprido corretamente as ordens que as vozes lhe haviam dado. Mas ela, como muitos outros, viu que enquanto a cidade de Paris estivesse tomada pelas tropas inglesas, dificilmente o novo rei poderia ter claramente o controle do reino de França.

No mesmo dia da coroação, chegaram emissários do Duque de Borgonha e se iniciaram as negociações para se chegar a paz, ou a uma trégua, que foi finalmente o que se pactuou. Não foi a paz que Joana desejava, mas pelo menos ela houve durante quinze dias. Entretanto a trégua não foi gratuita, já que houve interesses políticos por trás desta. Carlos VII necessitava tomar Paris para exercer sua autoridade de rei mas não queria criar uma imagem ruim com uma conquista violenta de terras que passariam a ser seu domínio. Foi isto que o que motivou a firmar a trégua com o Duque de Borgonha. Foi uma necessidade para ganhar tempo.

Durante a trégua, Carlos VII levou seu exército até Île-de-France (região francesa que abriga Paris). Houve alguns enfrentamentos entre os armagnacs e a aliança inglesa com os borguinhões. Os ingleses abandonaram Paris dirigindo-se a Ruão. Restava então derrotar os borguinhões que ainda ficaram em Paris e na região.

Joana foi ferida por uma flecha durante uma tentativa de entrar em Paris. Isto acelerou a decisão do rei em bater em retirada no dia 10 de setembro. Com a parada o rei francês não expressava a intenção de abandonar definitivamente a luta, mas optava por pensar e defender a opção de conquistar a vitória mediante a paz, tratados e outras oportunidades no futuro.

O fim de Joana d'Arc

Na primavera de 1430, Joana d'Arc retomou a campanha militar e passou a tentar libertar a cidade de Compiègne, onde acabou sendo dominada e capturada pelos borguinhões, aliados dos ingleses, em 1430.

Foi presa em 23 de maio do mesmo ano. Entre os dias 23 e 27 foi conduzida à Beaulieu-lès-Fontaines. Joana foi entrevistada entre os dias 27 e 28 pelo próprio Duque de Borgonha, Felipe, o bom. Naquele momento Joana era propriedade do Duque de Luxemburgo. Joana foi levada ao Castelo de Beaurevoir, onde permaneceu todo o verão, enquanto o duque de Luxemburgo negociava sua venda. Ao vendê-la aos ingleses, Joana foi transferida a Ruão.

Joana foi presa em uma cela escura e vigiada por cinco homens. Em contraste ao bom tratamento que recebera em sua primeira prisão, Joana agora vivia seus piores tempos.

O processo contra Joana teve início no dia 9 de janeiro de 1431, sendo chefiado pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon. Foi um processo que passaria à posteridade e que converteria Joana em heroína nacional, pelo modo como se desenvolveu e trouxe o final da jovem, e da lenda que ainda nos dias de hoje mescla realidade com fantasia.

Dez sessões foram feitas sem a presença da acusada, apenas com a apresentação de provas, que resultaram na acusação de heresia e assassinato.

No dia 21 de fevereiro Joana foi ouvida pela primeira vez. A princípio ela se negou a fazer o juramento da verdade, mas logo o fez. Joana foi interrogada sobre as vozes que ouvia, sobre a igreja militante, sobre seus trajes masculinos. No dia 27 e 28 de março, Thomas de Courcelles fez a leitura dos 70 artigos da acusação de Joana, e que depois foram resumidos a 12 , mais precisamente no dia 5 de abril. Estes artigos sustentavam a acusação formal para a donzela buscando sua condenação.

No mesmo dia 5, Joana começou a perder saúde por causa de ingestão de alimentos venenosos que a fez vomitar. Isto alertou Cauchon e os ingleses, que lhe trouxeram um médico. Queriam mantê-la viva, principalmente os ingleses, porque planejavam executá-la.

Durante a visita do médico, Jean d’Estivet acusou Joana de ter ingerido os alimentos envenenados conscientemente para cometer suicídio. No dia 18 de abril, quando finalmente ela se viu em perigo de morte, pediu para se confessar.

Os ingleses impacientaram-se com a demora do julgamento. O Conde de Warwick disse a Cauchon que o processo estava demorando muito. Até o primeiro proprietário de Joana, Jean de Luxemburgo, apresentou-se a Joana fazendo-lhe a proposta de pagar por sua liberdade se ela prometesse não atacar mais os ingleses. A partir do dia 23 de maio, as coisas se aceleraram, e no dia 29 de maio ela foi condenada por heresia.

Joana foi queimada viva em 30 de maio de 1431, com apenas dezenove anos de idade. A cerimônia de execução aconteceu na Praça do Velho Mercado (Place du Vieux Marché), às 9 horas, em Ruão.

Antes da execução ela se confessou com Jean Totmouille e Martin Ladvenu, que lhe administraram os sacramentos da Comunhão. Entrou, vestida de branco, na praça cheia de gente, e foi colocada na plataforma montada para sua execução. Após lerem o seu veredito, Joana foi queimada viva. Suas cinzas foram jogadas no rio Sena, para que não se tornassem objeto de veneração pública. Era o fim da heroína francesa.
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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

PENSAMENTO MILITAR



“A estratégia é a ciência do emprego do tempo e do espaço. Sou menos avaro com o espaço do que com o tempo. O espaço podemos reganhá-lo. O tempo perdido jamais.”

Napoleão Bonaparte
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AS CRUZADAS


Entender o que foram as Cruzadas não é difícil se partirmos inicialmente do entendimento de seu próprio nome. Seu nome deriva da palavra "cruz", que indica o martírio de Jesus Cristo, carregando-a e sendo nela pregado, até morrer de maneira lenta e dolorosa. Durante a Idade Média, a Igreja transformou a cruz no símbolo do cristianismo. Assim, as Cruzadas foram expedições organizadas pela Igreja para levar o cristianismo para outros povos, que não seguiam essa religião.

No entanto, para impor essa cruz, ou a fé em Cristo, para ou praticantes de outras religiões, não adiantava usar somente a palavra. Para povos que oferecessem resistência, a palavra seria de pouca serventia. Assim, a força armada era o principal elemento dessas expedições, que se denominavam também de "Guerra Santa".

A principal justificativa das Cruzadas foi reconquistar territórios perdidos para os inimigos da fé católica, ao mesmo tempo trazendo novos povos e regiões ao domínio da Igreja. Assim, a primeira Cruzada partiu em 1096 para Jerusalém, no Oriente Médio, região do nascimento de Jesus, considerado lugar sagrado pelos cristãos.


"Infiéis" na Terra Santa

Jerusalém havia sido dominada pelos turcos, que eram praticantes do Islamismo e proibiram a presença cristã na chamada "Terra Santa". Essa primeira Cruzada durou três anos: percorreu grande parte do continente europeu e, atravessando parte do mar Mediterrâneo, chegou a Jerusalém por terra.

Ao longo de mais de 200 anos, entre os séculos 11 e 13, foram realizadas oito Cruzadas. A mais longa durou seis anos e a mais curta, apenas um. No decorrer desse período, as Cruzadas foram desfazendo o isolamento em que a Europa se metera na Alta Idade Média, e reativando cada vez mais o trânsito por mar, chegando, inclusive, a retomar o contato com o continente africano.

Essas expedições em busca de novas terras atraíam milhares de pessoas. Havia um forte elemento religioso que motivava essas pessoas a virarem os "soldados de Deus". Ao atribuir às Cruzadas o caráter de "Guerra Santa" e considerá-las sagradas, a Igreja católica prometia aos seus soldados um lugar no Paraíso, depois de sua morte. Mas, além da justificativa religiosa, o interesse econômico de atacar outros povos, invadir suas cidades e saquear suas riquezas, era certamente algo interessante para os cavaleiros que marchavam nas Cruzadas.

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Uma Cruzada paralela

Assim, mais do que empreendimentos exclusivamente espirituais, as Cruzadas foram financiadas tanto pela Igreja, como pelos nobres e por ricos comerciantes, como um negócio ou investimento. Por outro lado, uma legião de miseráveis acabou se juntando à primeira delas, e compôs uma Cruzada paralela, não oficial, que chegou a ser condenada pelo Papa.

Isso ocorreu entre 1096 e 1099. Assim, essa primeira expedição oficial que rumava para Jerusalém, a fim de reconquistar a terra ocupada pelos turcos, foi copiada por uma expedição de pobres e miseráveis, que também queria seu lugar no céu, bem como riquezas na Terra. No entanto, essa "Cruzada paralela", organizada por Pedro, o Eremita, que conseguiu juntar 50 mil fiéis, foi aniquilada ao chegar em Constantinopla.

Já a Cruzada oficial, financiada pela nobreza e comandada por Godofredo de Bouillon, contou com 100 mil homens soldados e terminou com um final feliz para os cruzados: eles conseguiram não só reconquistar Jerusalém, como também a tomar a terra dos turcos.


Saladino e Ricardo Coração de Leão

Quase 50 anos depois, Jerusalém foi reconquistada pelos turcos e a Igreja teve nova justificativa para empreender uma outra Cruzada. Assim, entre 1147 e 1149, ocorreu a Segunda Cruzada, financiada por nobres franceses e germânicos. No entanto, essa campanha resultou num grande fracasso para os europeus.
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Quatro décadas se passaram, quando se resolveu empreender mais uma expedição militar à Terra Santa, que, dessa vez, estava sob o domínio de um sultão árabe, Saladino. Essa Terceira Cruzada, ocorrida entre 1189 e 1192, mais do que ter financiamento dos nobres, teve a presença dos reis de três dos principais reinos daquele período: da França, com Felipe Augusto; da Inglaterra, com Ricardo Coração de Leão, e do reino germânico, com Frederico Barba Ruiva.

Apesar disso, a expedição também foi derrotada militarmente. O Barba Ruiva morreu antes de chegar ao campo de combate, ainda que Ricardo Coração de Leão tenha conseguido um acordo com Saladino, o que permitiu aos cristãos pelo menos o direito de rezarem desarmados em Jerusalém.


Venezianos e crianças

As demais Cruzadas não foram expressivas pelo sucesso de sua missão religiosa, mas por outros motivos. Assim, a Quarta Cruzada, realizada entre 1201 e 1204, que foi financiada pelos comerciantes de Veneza, trouxe grandes benefícios a seus organizadores, pois submeteu povos da Grécia e os bizantinos aos tratados comerciais venezianos.

Em 1212, houve uma Cruzada bastante curiosa, não reconhecida pela Igreja católica, organizada por um menino de 12 anos, chamado Estevão de Cloyes. Este garoto conseguiu juntar com ele mais 30 mil jovens, que acreditavam que o Mar Mediterrâneo se abriria para eles chegarem até o Oriente Médio. Muitos comerciantes e proprietários de navios se interessaram por essa Cruzada, prometendo transportar as crianças para a Terra Santa. Na verdade, o que fizeram foi vendê-los como escravos nas cidades pelas quais passavam.


As últimas Cruzadas

Todas as outras Cruzadas foram fracassos militares: tanto a Quinta, organizada entre 1217 e 1221, quanto a Sexta, realizada entre 1228 e 1229. Esta última foi condenada pelo Papa, pois seu líder, Frederico II, Imperador do Sacro Império Germânico passou por cima da autoridade papal, fazendo acordos diplomáticos com os egípcios.


Finalmente, com quase 30 anos de distância uma da outra, a Sétima e a Oitava Cruzadas foram realizadas pelo rei francês Luiz 9º. Este rei, tratado com um santo pela Igreja católica, foi feito prisioneiro pelos seus inimigos durante a Sétima Cruzada (que durou seis anos, entre 1248 a 1254). Na Oitava e última Cruzada, que durou apenas um ano, em 1270, o final da expedição foi ainda pior. A maior parte dos cruzados, inclusive Luiz IX, acabou morrendo de peste antes de chegar à Terra Santa.

As Cruzadas envolveram interesses e crenças de diversos grupos sociais da Idade Média. Pobres, vagabundos, crianças sem perspectiva; nobres poderosos, influentes reis em busca de expansão de seus poderes; ricos comerciantes dispostos a estabelecerem novas rotas de comércio. Todos essas pessoas, com seus projetos e intenções fizeram parte das expedições religiosas e armadas, idealizadas pela Igreja católica para ampliar o domínio do cristianismo no mundo.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

IMAGEM DO DIA - 19/11/2009

Base de apoio de fogo do 14º Regimento de Artilharia de Campanha dos EUA no Vietnã, 1969. Podem ser vistos um helicóptero pesado CH-47 Chinook e um obuseiro leve M-102 de 105mm.


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PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – GENERAL DOUGLAS MACARTHUR


* 26/01/1880 – Little Rock, EUA
+ 05/04/1964 – New York, EUA

O general MacArthur parece ter nascido fadado para a guerra. A sua vida foi uma sucessão de batalhas nos mais variados teatros de guerra: na 1ª Grande Guerra, integrado na Divisão Arco-Íris, combateu na Europa; na 2ª Grande Guerra lutou no Extremo Oriente e, anos depois, voltou ao Pacífico para combater na Coreia.
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MacArthur não teria esquecido as palavras proferidas pelo então Secretário de Estado da Defesa norte-americano, Elihu Root, no dia 11 de Junho de 1903, data em que terminou o curso na Academia Militar de West Point: Antes que abandonem o Exército, a fazer fé na História, sereis obrigados a combater numa nova guerra.
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Nascido a 26 de Janeiro de 1880 em Little Rock, no Arkansas, MacArthur fazia remontar a ascendência dos escoceses MacArthur ao Rei Artur e aos cavaleiros da Távola Redonda. Com a fantasia que lhe era própria, MacArthur justificava os pergaminhos familiares com uma velha máxima escocesa: Nada há de mais antigo, excetuando as colinas, do que os MacArthur e o diabo.

Uma família de militares

Tal como sucede em relação ao general De Gaulle, torna-se difícil imaginar outra carreira para MacArthur que não a das armas. O seu pai, um antigo general, matriculou Douglas na Academia Militar de West Point no dia 13 de Junho de 1889, estabelecimento ao qual regressaria anos mais tarde como diretor.
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Terminado o curso, em junho de 1903, foi designado para as Filipinas, arquipélago a que voltaria por diversas vezes ao longo da sua carreira e que a marcaria em definitivo, já que aí MacArthur viveu os grandes momentos de glória e os dias mais trágicos.
.MacArthur foi transferido para Washington, sendo então nomeado ajudante de campo do presidente Teodore Roosevelt, regressando às Filipinas em 1935 tendo a seu cargo a chefia da missão militar norte-americana. Dois anos mais tarde, em 1937, abandona o serviço ativo e, não fora o fato de os japoneses atacarem Pearl Harbor, a sua carreira terminaria sem brilho nem glória.
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Em Junho de 1941 regressa ao ativo para, no momento em que deflagra o conflito nipo-americano, assumir o comando das Forças Armadas dos Estados Unidos no Extremo Oriente.

Carreira heróica e gloriosa

. Pearl Harbor e a ocupação japonesa das Filipinas marcam uma virada na vida de MacArthur, lançando-o numa carreira heróica e gloriosa em doses quase suficientes para satisfazer a sua imensa vaidade.
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Tentou, usando as defesas que ele próprio criara, impedir o desembarque japonês nas Filipinas. Só que a força japonesa (comandada por um homem que ele próprio acabaria por condenar à morte) era constituída por 80 mil homens, o dobro dos defensores de Luzón. Mesmo em desvantagem, e sabendo que seu esforço seria inglório, MacArthur defendeu Bataan e Corregidor até ao fim.
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Uma das suas expressões mais célebres espelha bem a tenacidade do general norte-americano: Eles podem ter a garrafa, mas a rolha sou eu quem a tem.
.Quando a situação se revelou insustentável recebeu ordens para se retirar do front, partindo com os seus homens para a Austrália: Doía-me o coração ao ver os homens, desmoralizados, cobertos de farrapos... Estavam sujos, cheios de piolhos, cheiravam mal, mas eu admirava-os.
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Quando Marshall o aconselhou a retirar a mulher e o filho num dos submarinos norte-americanos, não hesitou na resposta: Ela ficará comigo até ao fim. Nós bebemos os dois da mesma taça.
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Às sete e meia da manhã de 11 de março uma lancha-torpedeira esperava-o para levá-lo até à Austrália. MacArthur, sujo e esgotado tinha perdido doze quilos – dirigiu-se a casa em que habitava a sua mulher e, em voz baixa, limitou-se a dizer: Jane, chegou o momento de partir.
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As probabilidades de chegar são e salvo à Austrália eram de sete para uma. Nessa mesma manhã, na rádio japonesa, Rosa de Tóquio afirmava que se MacArthur fosse capturado vivo seria enforcado na Praça Imperial de Tóquio.
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Uma frase histórica: Voltarei!

Mal desembarcou em território australiano proferiu a mais conhecida das suas frases. Da frase completa, para a História, passaria apenas a parte final: Voltarei! (I shall return!). E voltou.
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A 6 de Agosto de 1945 uma superfortaleza voadora B-29 lançou sobre Hiroshima a primeira bomba atômica da História, obrigando o Japão a render-se. No dia seguinte, não querendo ficar à margem da vitória e da ocupação do território dos vencidos, a União Soviética declarava guerra ao Japão.
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MacArthur cumpre sua promessa e desembarca nas Filipinas


MacArthur desejava que a viagem até ao Japão, para a assinatura formal da rendição nipônica, terminasse no aeroporto de Yokohama. Os japoneses manifestaram o seu desagrado por esta ideia, argumentando que o referido aeroporto fora uma das bases dos kamikaze, muitos dos quais continuavam a residir aí. Mais: muitos desses pilotos-suicida haviam manifestado o seu descontentamento, numa manifestação que se desenrolara no Palácio Imperial de Tóquio, pela rendição japonesa.
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A 30 de Agosto, o avião de MacArthur (batizado com o nome de Bataan) aterrava no aeroporto de Atsugi. Mal pôs um pé em terra, MacArthur não esperou muito para proferir outra das suas palavras, desta vez dirigida ao general Eichelberger: Bob, há uma grande distância entre Melbourne e Tóquio, mas o caminho parece ter chegado ao fim.

Rendição a bordo do USS Missouri
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O caminho, longo de 15 milhas, que separava Atsugi de Yokohama foi percorrido a pé, ladeado por soldados norte-americanos. A cerimônia oficial da rendição do Japão realizou-se a 2 de Setembro de 1945, tendo por palco a coberta do couraçado USS Missouri. Sem indicações oficiais sobre o que fazer ou dizer, MacArthur agiu – ele próprio o afirmou – como procônsul dos Estados Unidos. Terá sido, sem dúvida, o que de melhor poderia ter acontecido. Para si, para o Japão e para os Estados Unidos. A obra feita não deixaria dúvidas quanto ao desempenho do general.
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Aos japoneses poupou, na medida do possível, a humilhação que normalmente espera os vencidos. Os vastos conhecimentos de que dispunha sobre a mentalidade oriental, e a paixão que tinha pelo Oriente, foram vitais para o equilíbrio da sua atuação. O próprio imperador japonês, Hirohito, não deixou de avisar os seus concidadãos: Vejam como tratam o general. Não é um inimigo. É um amigo.

A MacArthur, e à política de ocupação que desenvolveu, deve o Japão o regime democrático e a prosperidade atuais. Uma política pautada pela equidade e pela moderação que muitos consideraram falta de firmeza para com os vencidos.
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Em Washington, e em Moscou, exigia-se pulso forte no trato com os vencidos como, lembravam, fora acordado em Potsdam. Mais do que dar ouvidos a americanos e russos, MacArthur preferiu fazer justiça, condenando à morte os oficiais japoneses acusados de crimes de guerra. Entre esses oficiais contavam-se os generais Yamashita e Homma, este último responsável pela sangrenta Marcha da Morte de Bataan.


Apanhado de surpresa pela guerra da Coreia

Ainda em Tóquio foi informado de que começara uma nova guerra, desta vez na Coreia. Ele mesmo conta como soube deste novo conflito: "Era bem cedo quando, naquela manhã de 25 de Junho de 1950, o telefone tocou na Embaixada. Reconheci a voz de um ajudante que me disse: General, um número considerável de norte-coreanos atravessou o paralelo 38."
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O Conselho de Segurança da ONU nomeou MacArthur comandante-chefe das forças das Nações Unidas na Coreia. Esta guerra, a última que participou, seria aquela que deixaria as recordações mais amargas.
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Nem a América de 1950 era a mesma América de outrora nem, tampouco, a Casa Branca tinha por hóspede Franklin Delano Roosevelt. A Guerra Fria, com todo o seu cortejo de medos, reservas e cumplicidades, condicionava todos os atos políticos e militares, ninguém querendo chamar a si ônus de uma decisão comprometedora. MacArthur recordou, então, numa frase que ouvira a seu pai: Meu filho, as decisões bélicas geram temor e derrotismo.
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O general não entendia a estratégia traçada por Washington que não queria vitórias, mas, isso sim, que um herói da 2ª Grande Guerra não criasse situações embaraçosas, sobretudo com chineses e russos do outro lado da barricada.
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As guerras, como descobriu MacArthur, já não eram feitas para serem ganhas, mas para não serem perdidas. Uma lógica que ia contra tudo aquilo que aprendera e executara antes. Não compreendia, igualmente, as evasivas de Washington aos seus pedidos nem, em casos extremos, algumas recusas formais como, por exemplo, o de forçar a Formosa a participar no conflito.

Amargura e destituição

Quando anunciou a intenção de bombardear as tropas chinesas além do rio Yalu, Washington começou a encará-lo como uma ameaça. Quis, então, pedir demissão, sendo impedido de fazê-lo por alguns dos seus amigos. Um dia, um dos seus pilotos perguntou-lhe: Meu general, afinal de que lado estão os Estados Unidos e as Nações Unidas?
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A 11 de Abril de 1951, o presidente Truman, que não nutria grande simpatia pelo general, anuncia a destituição de MacArthur. Acabo de demitir deus, disse nesse dia Truman à sua filha Margaret.
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Em 1952, alguns dos seus amigos do Partido Republicano propuseram – como havia feito em 1948 – a MacArthur que se candidatasse à presidência. Uma vez mais deixou bem claro que não tinha ambições políticas. Truman, que o questionara sobre uma eventual candidatura à Casa Branca, ouviu de MacArthur a seguinte resposta: Se, no seu caminho, tropeçar num general não será certamente em mim, mas em Eisenhower.
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MacArthur, que regressou à sua casa de Nova Iorque, faleceu a 5 de Abril de 1964. Tinha 84 anos e combatera em três guerras que marcaram o século XX.
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BANDEIRAS HISTÓRICAS DO BRASIL

Hoje, 19 de novembro, comemora-se o Dia da Bandeira. Assim como o Brasil, nossa bandeira também evoluiu ao longo da História. Após a Proclamação da República em 1889, surgiu a necessidade de criação de uma nova bandeira. Criada pelo jurista Ruy Barbosa, a bandeira provisória era bastante semelhante à bandeira estadunidense, fato que fez com que o marechal Deodoro da Fonseca vetasse o desenho.

Adotada pelo decreto de lei nº 4 de 19 de Novembro de 1889, a bandeira atual consiste em uma adaptação da antiga bandeira do império idealizada em 1820 por Jean-Baptiste Debret. O disco azul central foi idealizado pelo pintor Décio Vilares, já as estrelas, por Benjamin Constant. A inscrição “Ordem e Progresso” é fruto da influência do positivismo de Augusto Comte. Até hoje, a bandeira brasileira permanece inalterada, com exceção das estrelas, que segundo a Lei nº 8.421, de 11 de maio de 1992, devem ser atualizadas no caso de criação ou extinção de algum Estado.
A seguir, apresentamos as bandeiras históricas do Brasil.


Bandeira de Ordem de Cristo (1332 - 1651)
A Ordem de Cristo, rica e poderosa, patrocinou as grandes navegações lusitanas e exerceu grande influência nos dois primeiros séculos da vida brasileira. A cruz de Cristo estava pintada nas velas da frota cabralina e o estandarte da Ordem esteve presente no descobrimento de nossa terra, participando das duas primeiras missas. Os marcos traziam de um lado o escudo português e do outro a Cruz de Cristo.

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Bandeira Real (1500 - 1521)
Era o pavilhão oficial do Reino Português na época do descobrimento do Brasil e presidiu a todos os acontecimentos importantes havidos em nossa terra até 1521. Como inovação apresenta, pela primeira vez, o escudo de Portugal.

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Bandeira de D. João III (1521 - 1616)
O lábaro desse soberano, cognominado o "Colonizador", tomou parte em importantes eventos de nossa formação histórica, como as expedições exploradoras e colonizadoras, a instituição do Governo Geral na Bahia em 1549 e a posterior divisão do Brasil em dois Governos, com a outra sede no Maranhão.

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Bandeira do Domínio Espanhol (1616 - 1640)
Este pendão, criado em 1616, por Felipe II da Espanha, para Portugal e suas colônias, assistiu às invasões holandesas no Nordeste e ao início da expansão bandeirante, propiciada, em parte, pela "União Ibérica".

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Bandeira da Restauração ( 1640 - 1683)
Também conhecida como "Bandeira de D. João IV", foi instituída, logo após o fim do domínio espanhol, para caracterizar o ressurgimento do Reino Lusitano sob a Casa de Bragança O fato mais importante que presidiu foi a expulsão dos holandeses de nosso território. A orla azul alia à idéia de Pátria o culto de Nossa Senhora da Conceição, que passou a ser a Padroeira de Portugal, no ano de 1646.

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Bandeira do Principado do Brasil (1645 - 1816)
O primeiro pavilhão elaborado especialmente para o Brasil. D João IV conferiu a seu filho Teodósio o título de "Príncipe do Brasil", distinção transferida aos demais herdeiros presuntivos da Coroa Lusa. A esfera armilar de ouro passou a ser representada nas bandeiras de nosso País.

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Bandeira de D. Pedro II, de Portugal (1683 - 1706)
Esta bandeira presenciou o apogeu de epopéia bandeirante, que tanto contribuiu para nossa expansão territorial. É interessante atentar para a inclusão do campo em verde (retângulo), que voltaria a surgir na Bandeira Imperial e foi conservado na Bandeira atual, adotada pela República.

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Bandeira Real Século XVII (1600 - 1700)
Esta bandeira foi usada como símbolo oficial do Reino ao lado dos três pavilhões já citados, a Bandeira da restauração, a do Principado do Brasil e a Bandeira de D. Pedro II, de Portugal.

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Bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve (1816-1821)
Criada em conseqüência da elevação do Brasil à categoria de Reino, em 1815, presidiu as lutas contra Artigas, a incorporação da Cisplatina, a Revolução Pernambucana de 1817 e, principalmente, a conscientização de nossas lideranças quanto à necessidade e à urgência de nossa emancipação política. O Brasil está representando nessa bandeira pela esfera armilar de ouro, em campo azul, que passou a constituir as Armas do Brasil Reino.

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Bandeira do Regime Constitucional ( 1821- 1822)
A Revolução do Porto, de 1820, fez prevalecer em Portugal os ideais liberais da Revolução Francesa, abolindo a monarquia absoluta e instituindo o regime constitucional, cujo pavilhão foi criado em 21 de agosto de 1821. Foi a última bandeira Lusa a tremular no Brasil.

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Bandeira Imperial do Brasil (1822 - 1889)
Criada por Decreto de 18 de setembro de 1822, era composta de um retângulo verde e nele, inscrito, um losango ouro, ficando no centro deste o Escudo de Armas do Brasil. Assistiu ao nosso crescimento como Nação e a consolidação da unidade nacional.

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Bandeira Provisória da República (15 a 19 Nov 1889)
Esta bandeira foi hasteada na redação do jornal "A Cidade do Rio", após a proclamação da República, e no navio "Alagoas", que conduziu a família imperial ao exílio.


Fonte: Portal do Exército Brasileiro (http://www.exercito.gov.br/)
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PENSAMENTO MILITAR - A HONRA NA GUERRA

"A morte não é nada, mas morrer sem honra ou glória é morrer todos os dias."


Napoleão Bonaparte

terça-feira, 17 de novembro de 2009

IMAGEM DO DIA - 17/11/2009


Durante a 2ª Guerra Mundial, soldado de artilharia da Força Expedicionária Brasileira prepara-se para enviar aos inimigos alemães uma "mensagem" de 105 mm
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PENSAMENTO MILITAR


“O Exército é a mais lídima e representativa das instituições nacionais; ele é o verdadeiro índice do povo brasileiro.”


Gilberto Freyre, sociólogo

UNIFORMES - SOLDADO ALPINO ITALIANO, 1940

Exército Italiano. 2ª Divisão Alpina Tridentina
Alpes Ocidentais, 1940


Durante a breve e sangrenta campanha nos Alpes entre a Itália e a França, em junho de 1940, quatro divisões de montanha alpinas italianas foram empregadas. As unidades alpinas italianas eram recrutadas nas províncias montanhosas da Itália e adquiriram reputação de serem as mais eficientes tropas do Exército Italiano durante a 2ª Guerra Mundial.
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O soldado raso ao lado está uniformizado com uma túnica modelo pré-guerra M1937 com insígnias negras de gola. Sob a túnica veste um pulôver de lã verde para aquecê-lo contra o frio. A calça é do tipo pantalona e segue enfiada por sob meias grossas alpinas. Seus calçados são botas especiais tipo montanha.

Sua cobertura consiste em um boné com pena, típico das tropas alpinas italianas. O soldado montanhista está armado com um fuzil Carcano M1891, cuja baioneta vai presa ao cinto de couro. Seu equipamento inclui um cantil metálico, dois porta-carregadores para fuzil e um bornal onde conduz rações de campanha.


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PRAÇA-FORTE DE PENICHE

A Praça-forte de Peniche localiza-se na cidade de mesmo nome, no Distrito de Leiria, em Portugal.

Acredita-se que origem do topónimo Peniche possa derivar de Phenix, nome de uma antiga cidade na ilha de Creta, cuja configuração geográfica era semelhante à da primitiva ilha de Peniche. Vizinha ao cabo Carvoeiro, atualmente encontra-se a treze metros acima do nível do mar, ocupando uma península de 2.750 metros de comprimento, no sentido Oeste-Leste.


O Castelo da Vila

Na época da independência de Portugal, Peniche era uma ilha, distante cerca de oitocentos passos do continente, fronteira à foz do rio de São Domingos.

O antigo lugar da Ribeira d’Atouguia, na foz desse rio, constituía-se num dos mais importantes portos portugueses da Idade Média, e em ponto-chave para acesso aos principais centros do país (Leiria, Óbidos, Santarém, Torres Vedras e Lisboa), nessa qualidade tendo estado envolvida em diversos episódios da História de Portugal.

A ação das correntes marítimas e dos ventos, com o passar dos séculos, levou ao assoreamento desse curso de água, vindo as areias a formar, progressivamente, um cordão de dunas que, consolidando-se, uniu a ilha de Peniche ao continente, fazendo desaparecer o porto de Atouguia.
Alvo constante de ataques de corsários ingleses, franceses e de Piratas da África do Norte, o rei Manuel I de Portugal (1495-1521) encarregou o conde de Atouguia da elaboração de um plano para a defesa daquele trecho do litoral, que foi apresentado ao seu sucessor, João III de Portugal (1521-1557).

Os trabalhos foram iniciados pela construção, em 1557, do chamado Castelo da Vila, estrutura abaluartada concluído por volta de 1570, ao tempo do reinado de D. Sebastião (1557-1578).

Durante a Dinastia Filipina, foi em Peniche que as tropas inglesas, cedidas por Isabel I de Inglaterra, sob o comando de Antônio I de Portugal, iniciaram a sua marcha sobre Lisboa (Julho de 1589), na tentativa, infrutífera, de restaurar a soberania portuguesa.
Ainda nesse contexto, a povoação pesqueira foi elevada a vila (1609) tendo sido promovidos pequenos reparos nas suas muralhas.

A Guerra da Restauração e a fortificação abaluartada

No contexto da Guerra de Restauração da independência, o Conde D. Jerônimo de Ataíde prosseguiu as obras de fortificação de Peniche, sob projectos do engenheiro militar francês Nicolau de Langres e, posteriormente, do português João Tomaz Correia, estando concluídas por volta de 1645.

Esta fortificação era coadjuvada pelo Forte da Consolação e pelo Forte de São João Baptista das Berlengas, integrando um extenso sistema defensivo que, entretanto, revelou-se débil no contexto da Guerra Peninsular, diante da invasão napoleônica de 1807, sob o comando do General Jean-Andoche Junot, quando entre o final desse ano e Agosto de 1808, permaneceu ocupada por tropas francesas. Na ocasião foram procedidos reparos nas suas defesas pelos invasores, que, entretanto, picaram as armas de Portugal sobre o portão principal. Ocupada por tropas inglesas sob o comando de William Carr Beresford, foram executados novos reparos nas defesas, o mesmo se repetindo sob o reinado de Miguel de Portugal (1828-1834), que culminaram na ampliação do perímetro defensivo. A fortificação teve, entretanto, uma débil atuação durante a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834).

Em 1836 a Praça-forte viveu dois eventos funestos: o incêndio que destruiu completamente o chamado Palácio do Governador (que não voltaria a ser recuperado) e a explosão da pólvora armazenada em um dos paióis.
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Neste século, diante da progressiva perda da sua função defensiva, as suas instalações passaram a ser utilizadas como prisão (época das Invasões Napoleônicas) e posteriormente, como prisão política (época das Guerras Liberais, quer para liberais, quer para absolutistas). Teve utilização militar até 1897, tendo sido um dos seus últimos governadores, José Tomas de Cáceres Filho.

Do século XX aos dias atuais

No alvorecer do século XX, foi utilizada como abrigo para os bôeres que se asilaram na então colônia portuguesa de Moçambique após a vitória inglesa na África do Sul. À época da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), nela estiveram detidos alemães e austríacos, convertendo-se, durante o Estado Novo português (1930-1974), em prisão política de segurança máxima. Em 3 de Janeiro de 1960 foi palco da espetacular "fuga de Peniche", protagonizada por Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues.

Em 25 de Abril de 1974, ao eclodir a Revolução dos Cravos, foi um dos pontos-chave dos revolucionários, passando a ser utilizada como abrigo para os retornados dos ex-territórios ultramarinos portugueses na África quando do processo de descolonização.

A partir de 1984 um dos três pavilhões passou a ser utilizado como Museu Municipal, exibindo material arqueológico, histórico e etnográfico (renda de bilros, peças consagradas à pesca e à construção naval), destacando-se o chamado Núcleo da Resistência, a reconstituição do ambiente de uma prisão política do Estado Novo (celas individuais e parlatórios). Neste último, os visitantes podem ver a cela onde esteve preso o secretário-geral do Partido Comunista Português Álvaro Cunhal e alguns dos seus desenhos a carvão, bem como o local por onde se evadiu em 1961. O museu é visitado anualmente por mais de 40 mil pessoas.

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O Forte da Consolação encontra-se atualmente abandonado e em precário estado de conservação, sendo particularmente preocupante o estado das suas arribas, em processo de derrocada por ação da erosão marinha.

No ano de 2006 as dependências da fortaleza serviram como cenário para a dramatização do desembarque inglês de 1589, visando repor a verdade histórica sobre a popular expressão "os amigos de Peniche".

Características

A Praça-forte é constituída por uma série de obras defensivas com estrutura abaluartada, com planta no formato de um polígono irregular estrelado, adaptado ao terreno. O perímetro amuralhado abrange uma área de cerca de dois hectares, nele se inscrevendo quatro portas - a das Cabanas, a Nova, a da Ponta e a de Peniche de Cima. O conjunto da fortificação divide-se em dois grandes setores:

- a norte, Peniche de Cima, dominado pelo Forte da Luz. No formato poligonal com baluartes nos vértices coroados por guaritas circulares, apresenta as canhoneiras no terrapleno, pelo lado do mar. Pelo lado de terra, protegendo o portão monumental, ergue-se um revelim triangular. O conjunto é integrado pelo chamado "Baluarte Redondo", pela "Torre de Vigia" e pela capela de Santa Bárbara.


- a sul, Peniche de Baixo, constituindo-se na Cidadela. Pelo lado do Campo da Torre, um revelim protege a entrada e a cortina da Cidadela, cuja defesa é complementada por um fosso. Cortinas e fossos adicionais protegiam o setor Oeste, bem como diversas canhoneiras, caminhos cobertos e esplanadas. Outras duas cortinas a Norte e os baluartes a Leste e a Oeste são acompanhados por várias construções de planta rectangular e pelas famosas prisões, dominadas por uma torre de vigia.

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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

IMAGEM DO DIA -16/11/2009

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Durante a Batalha de Salamaca, em 1812, a cavalaria britânica investe contra a infantaria francesa.

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B-17 FORTALEZA-VOADORA DA FAB


No contexto de nossa viagem de estudos à Pernambuco, destaco hoje um objeto histórico diferente: a B-17 Fortaleza-Voadora preservada existente na Base Aérea do Recife.

Embora alguns pesquisadores de aviação, classifiquem as Fortalezas-Voadoras que vieram para a FAB, pertencentes a uma série específica, referida como "H", acredita-se ter sido, somente, uma variante da sua última, comprovada e mais produzida série, que foi a "G", da qual foram produzidas 8.680, do total de 12.761 unidades construídas. Conhecidas como SB-17G e RB-17G, 180 B-17G foram modificadas para esse padrão. As SB-17G destinavam-se ao serviço de busca e salvamente - SAR (Search and Rescue) e as RB-17G, para a função de reconhecimento aerofotográfico e meteorológico.

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Vieram para a nossa FAB cumprir o acordo internacional feito pelo Brasil junto à Organização de Aviação Civil Internacional, para disponibilizar uma unidade aérea, no nosso trecho do Atlântico Sul, com a missão de busca, salvamento, reconhecimento e fotografia aérea. A B-17 foi o nosso primeiro avião militar a fazer uma travessia oceânica, em 1º de setembro de 1953, indo de Recife a Dakar, na África. Aqui, também, indistintamente, desempenharam o papel de vetores de transporte de longo alcance, como o foram no abastecimento e apoio aos nossos soldados, que integravam as Forças de Paz das Nações Unidas, na Crise de Suez - Faixa de Gaza, em 1956 e, também, em São Domingos, na República Dominicana. Foram mais de 25 missões, com tempo de vôo superior a 2.000 horas, sem nenhum acidente!


O editor do BLog História Militar diante da B-17 da FAB no Recife

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A FAB utilizou treze aeronaves sendo que, o lote inicial de seis unidades, chegou ao Brasil em abril/1951, para compor, na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, o Centro de Treinamento de Quadrimotores. Posteriormente, esse Centro foi transferido para o Recife, quando, em 15/10/1053, deu lugar ao 1º/6º (1º Esquadrão do 6º Grupo de Aviação). No final de 1954, a FAB recebeu as sete B-17 restantes, o que propiciou a reestruturação do 6º GAv (6º Grupo de Aviação), passando a ser formado por dois Esquadrões, o 1º/6º destinado às missões de SAR e o 2º/6º com a missão de reconhecimento aerofotográfico e meteorológico.


Com a sua finalidade notadamente pacífica, ambas as versões já vieram desarmadas e desprovidas de suas estações de tiro. As SB-17G, de busca e salvamento, eram reconhecidas pelo radomo proeminente, que abrigava o radar de busca, conduzido no queixo e pelo bote metálico salva-vidas que portavam, externamente, na parte inferior da fuselagem. Esse bote destinava-se ao resgate de sobreviventes de naufrágio. Era lançado ao mar, por pára-quedas. Conhecido tecnicamente por "A-1", possuía 8,10m, e era fixado na barriga da B-17 por quatro cabos que eram presos aos cabides do compartimento de bombas (o "bomb bay"). Seu lançamento ocorria a 360m de altura, com a SB-17G voando a, aproximadamente, 190 km/h, com a descida sustentada por três pára-quedas. Interessante é que, quando chegava à água, numa inclinação de 45º, com o impacto, eram acionados foguetes que disparavam cabos nas quatro direções do barco, para serem pegos pelos náufragos, a fim de facilitar o seu salvamento! Motorizado por um par de motores Higgins, pesava 790kg e conduzia um completo equipamento de sobrevivência no mar.


As RB-17G eram reconhecidas pela estação de câmeras fotográficas que conduziam em um "pod", abaixo do seu nariz. Ao que parece, a nossa primeira B-17G não recebeu matrícula militar brasileira, pois foi perdida, ainda, com matrícula militar americana estando, inclusive, comandada, na oportunidade, por piloto americano. As doze restantes receberam as matrículas FAB 5400 a 5411.


Posteriormente os esquadrões fundiram-se em, apenas, um, o 1º/6º, em decorrência das perdas operacionais (FAB 5404, em 1959; FAB 5405, em 1963 e FAB 5409, em 1964), ocasionada pela rigorosa rotina do Grupo, com suas extenuantes missões além das dificuldades no recompletamento do equipamento, que obrigaram a canibalização de cinco dos B-17, para garantir ao atendimento dos rígidos requisitos técnicos da segurança do vôo, a fim de viabilizar a operacionalidade das demais unidades, em sua abnegada missão. Devido a essas dificuldades muitas foram as situações de alternância entre as unidades na linha de vôo: SB-17 realizando missões de RB-17 ou vice-versa!


SB-17G FAB 5402 preservada na Base Aérea do Recife: a única no Brasil

Das 12 B-17 que, efetivamente, tiveram a sua vida operacional na FAB, pelo menos, oito eram SB-17G, entre elas, podemos citar, a FAB 5402, 5406, 5408 e 5409. Em fotografias da época vê-se, comprovadamente, como RB-17G, a FAB 5411. Já como SB-17G, é possível constatar as unidades FAB 5402 e 5409. A FAB 5402 tinha o seu bote salva-vidas na cor alumínio e o radomo em preto antiofuscante. No bote trazia a inscrição, nos dois lados superiores de sua proa, FAB e, abaixo, o número 02. Já a SB-17G FAB 5409, portava o bote pintado com o mesmo amarelo das faixas indicativas do Serviço Internacional de Busca e Salvamento, aplicadas na sua fuselagem e nas asas.

Lamentavelmente, dessas belas máquinas, que fizeram história nos 1º e 2º Esquadrões do 6º Grupo de Aviação, da FAB, após sua desativação, restaram apenas, três: a 5402 que está em monumento na Base Aérea de Recife; a 5408, desmontada, no MUSAL; e a 5400, que foi doada pela FAB ao Museu da Força Aérea dos EUA (USAF). Chegou lá voando, em impecáveis condições de vôo, em 5 de outubro de 1968, pousando na Base Aérea de Andrews, perto de Washington-D.C. Antes de pousá-la, a tripulação brasileira, comandada pelo Major-Aviador Elahir Amaral da Nóbrega, efetuou três belíssimos rasantes sobre a pista, homenageando os milhares de ex-tripulantes de B-17, da 2ª Guerra Mundial, que foram recepcioná-la!

Ao todo, foram dezoito anos, de 1951 a 1969, de ótimos serviços prestados à nossa FAB que, como a última força aérea do mundo a utilizá-la, distinguiu-a da sua função primordialmente guerreira, para transformá-la em mensageira da paz, levando em suas asas a ajuda humanitária e a esperança!

Se você deseja ver de perto a única B-17 existente no Brasil – provavelmente a única na América do Sul -, vá ao Recife e siga até a Base Aérea na Av. Maria Irene, s/nº - Jordão, Recife – PE. A Fortaleza-Voadora está lá, imponente, guardando os portões da base.

Características:




Fabricante: Boeing Aircraft Company
Motores: quatro motores radiais Wright Cyclone GR 1820-97, de 09 cilindros, refrigerados a ar, com turbo-supercompressores Moss-General Electric, com potência unitária de 1.200HP na decolagem, impulsionando hélices tripás
Envergadura: 31,62m
Comprimento: 22,65m
Altura: 5,81m
Peso: Vazio - 16.345kg
Máximo - 25.129kg
Velocidade: 499km/h a 7.620m
Teto de Serviço: 10.668m
Alcance: 4.020 km
Armamento: Nenhum (versão de busca e salvamento)
Tripulação: 9

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